domingo, 21 de março de 2010

VERA LUCIA BRAGA: AMBIENTALISTA DE VERDADE QUE ENFRENTOU A IGNORÂNCIA DOS TUBARÕES PREDADORES DE SP.

Uma trajetória de repercussão internacional de uma mulher, que já na época tinha visão futurista dedicada a preservação da Serra da Cantareira.

Fonte: Jornal da Serra

Um dos nomes mais respeitados não só entre os ambientalistas, brasileiros ou não, Vera Lúcia Braga iniciou sua trajetória há trinta anos. Sua militância e carisma resultaram em ações de repercussão internacional em prol da preservação ambiental e da qualidade da vida. Do desenvolvimento sustentado.

No início da década de 90, Vera foi matéria da "Vejinha", quando a revista entrevistou a liderança nascente da cidadania que, então, lutava pela preservação do ambiente, da memória e da identidade cultural de São Paulo.Desde essa época, cumpriu integralmente os objetivos a que se propôs: num ativismo ecológico ímpar, durante dois anos deu dezenas de palestras em escolas, sindicatos, associações de classe e igrejas sobre a importância do Cinturão Verde de São Paulo para a qualidade de vida do paulistano. Arrecadou 150.000 assinaturas e levou-as Paris, na sede da UNESCO, para transformar a Cantareira e todo o Cinturão Verde em Reserva da Biosfera, com status de herança da humanidade, ou como se diz popularmente, Patrimônio da Humanidade. Viajou a Washington e, com estudos bem fundamentados, conseguiu bloquear verbas do BIRD e BID para obras rodoviárias que iriam destruir o Tremembé, bairros vizinhos e a Cantareira, com milhares de desapropriações, gerando, entre outras conseqüências danosas, os encortiçados de amanhã. Essa desobediência civil iria custar a Vera um processo do Poder Público.

Liderança reconhecida - Em 1991 Vera esteve em Genebra, Suíça, onde construiu um arco de alianças com as 16 principais ONGs internacionais em favor de suas teses comprometidas com o desenvolvimento sustentado. Hoje, a Reserva da Biosfera do Cinturão Verde é realidade e, por isso, Vera Lúcia recebeu diploma de Honra ao Mérito da UNESCO. Foi uma das cinco brasileiras convidadas a participar da Assembléia Internacional da Mulher e do Ambiente em Miami, como reconhecida liderança feminina.
Pisando no barro - Mas nem sempre foi assim. Nascida no Tremembé, em 31 de outubro de 1942, Vera iniciou sua trajetória ambientalista pisando no barro, há mais de 30 anos, no antigo Serviço Florestal do Estado, quando a palavra ecologia não era modismo. Ao invés de proteger o verde pelo verde, sua postura já era avançada: proteger o homem que cuida do verde, que mora em condições inóspitas, desassistido e com baixo salário. Organizou, com os Drs. Guido Levi e Vicente Amato Neto, um programa de medicina preventiva exemplar, para resgatar as famílias que moravam no interior das Reservas Florestais da Cantareira, Curucutu, Carlos Botelho e Serra do Mar, entre outras. Os acidentes ofídicos, o alcoolismo, as doenças puerperais que dizimavam a população serrana diminuíram significativamente. Esse trabalho se desenvolveu de março de 1973 a fevereiro de 77, período em que foram atendidos 10 mil pacientes.
Na década de 90, apresentou à FAO das Nações Unidas o Projeto de Jovens Carentes em Atividades Agroflorestais (o atual Programa de Jovens da Reserva da Biosfera), que contava com o apoio da cidadania, em parceria suprapartidária, e também do Cardeal Arns, de Laerte Setúbal, José Genoino, Walter Feldman entre outros. A proposta era singela e revolucionária. Ao invés de destruir o verde da vida e exterminar os jovens, o eixo da história seria invertido: proteger o verde através dos jovens, resgatando sua dignidade e criando empregos.

Força e garra - Mas o destino tem seus mistérios: acometida de moléstia neuromuscular degenerativa rara , escleroselateral amiotrófica (HLS), Vera sobreviveu durante quase cinco anos, até maio de 2000, numa UTI domiciliar, com auxílio de aparelhos. Mesmo assim, não entregava os pontos: completamente lúcida, conservou a garra do passado. De seu quarto hospitalar observava diariamente a Mata da Cantareira, o fértil Vale do Tremembé, que serpenteia no pé da montanha, e dirigia mensagens de alento e carinho aos resistentes que a buscavam. Sua maior alegria foi ver o Programa de Jovens, que plantou na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde, ser reconhecido como o mais importante dentre as 330 Reservas da Biosfera do planeta e merecer o prêmio Ted Turner. Como escreveu Roberto Goodland, do Banco Mundial (autor do livro "Amazônia Brasileira, Inferno Verde ou Deserto Vermelho?", considerado "persona non grata" pelo regime militar): "Vera Lúcia resiste, insiste, mas não desiste". (Matéria publicada na edição 76 do Jornal da Serra, junho de 99).

Fonte: Jornal da Serra

SAIBA MAIS SOBRE VERA LUCIA BRAGA

No ano de 2004, o Museu Florestal homenageou-a expondo sua história. Leia mais

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