terça-feira, 4 de novembro de 2008

Mortos e Desaparecidos > Hiroaki Torigoi

Hiroaki Torigoi

Dirigente do MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO POPULAR (MOLIPO).Nascido em Lins, Estado de São Paulo, em 02 de dezembro de 1944, filho de Hiroshi Torigoe e Tomiko Torigoe.

Foi morto, aos 28 anos de idade, em São Paulo.Fazia o 4° ano da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.Baleado e preso pelo DOI/CODI-SP, em 5 de janeiro de 1972, Torigoi foi imediatamente levado para as câmaras de tortura desse departamento.Sua prisão se deu na Rua Albuquerque Lins, Bairro de Santa Cecília, por uma equipe chefiada pelo delegado Otávio Gonçalves Moreira Jr., vulgo “Otavinho”.

Seus torturadores e assassinos foram: capitão do exército Orestes, vulgo “Ronaldo”; “capitão Amici”, Aparecido Laerte Calandra, o “capitão Ubirajara”, investigador Pedro Maria Grancieri, soldado da Aeronáutica Roberto, vulgo “Padre”, policial conhecido como “Castilho”, todos chefiados pelo então major Carlos Alberto Brilhante Ustra e pelo capitão Dalmo Lúcio Muniz Cirillo.Devido a seus ferimentos, e pela impossibilidade de pendurá-lo no pau-de-arara, Torigoi foi torturado em uma cama de campanha, onde foi amarrado para espancamentos, choques elétricos e outras violências.

Vários presos políticos que se encontravam no DOI-CODI/SP nesse dia viram Torigoi ser arrastado pelo pátio interno, sangrando abundantemente, em direção às câmaras de tortura.A já tradicional nota oficial à imprensa, anunciava sua morte como sendo mais um “terrorista” que morria ao ser levado ao hospital, ferido em conseqüência de tiroteio.Um fato importante é que vários presos ouviram uma acirrada discussão entre os torturadores quanto ao destino a ser dado a Torigoi, quando este ainda se encontrava vivo.

Assassiná-lo de imediato em torturas, foi o que defendeu o capitão Orestes, apoiado pelo capitão Amici; prestar-lhe alguma assistência médica, reanimando-o a fim de continuar com as torturas, era o que queria o delegado Otávio Gonçalves Moreira Jr.A posição vencedora foi a dos capitães Orestes e Amici, que lograram seu intento, assassinando Torigoi em apenas algumas horas.O laudo de necrópsia foi assinado pelos médicos legistas Isaac Abramovitch e Abeylard Queiroz Orsini, corroborando a versão oficial.

O simples exame das fotos do corpo evidenciam as torturas - estando um dos braços visivelmente quebrado.Foi enterrado como indigente com o nome falso de Massahiro Nakamura em 07 de janeiro de 1972, na rua 15, sepultura 65, em Perus. Seu irmão, que foi fazer o reconhecimento fotográfico no DOPS no dia 20 de janeiro de 1972, contou 8 tiros, sendo 3 na face e 5 no tórax. Foi exumado em 1976 e seu paradeiro não foi informado aos familiares, dizendo não saberem do destino dado à sua ossada.Em 1990, pelo exame dos livros do Cemitério Dom Bosco, constatou-se que os restos mortais foram reinumados no mesmo local.

O corpo exumado dessa sepultura não possui o crânio, aguardando a identificação através do exame de DNA, na UNICAMP.

O Relatório do Ministério da Marinha, diz que “faleceu no dia 05 de janeiro de 1972, no pronto socorro para onde foi conduzido, após ser ferido em tiroteio com agentes de segurança, ao reagir à bala à voz de prisão. Usava o nome falso de Nakamura, o que dificultou sua verdadeira identificação.”REGIME MILITARFolha de São Paulo, 25 de maio de 2003Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos vai pedir ajuda da Promotoria para retomar exumaçõesFamílias planejam novas buscas em Perus MÁRIO MAGALHÃESDA SUCURSAL DO RIO Uma das feridas mais profundas que o regime militar (1964-85) deixou sem cicatrização, o sumiço dos corpos de pelo menos 152 oposicionistas, vai ganhar novo capítulo.

A Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos pedirá ajuda ao Ministério Público para retomar as exumações no cemitério Dom Bosco, em Perus (zona norte paulistana).A decisão foi tomada depois que uma equipe de médicos-legistas da USP (Universidade de São Paulo) concluiu que três ossadas, das quais uma se presumia ser do guerrilheiro Hiroaki Torigoe (1944-72), têm dados discordantes com o corpo do militante.Ou seja: são incompatíveis com as características antropométricas de Torigoe e, portanto, não devem ser dele. Integrante do Molipo (Movimento de Libertação Popular), Torigoe morreu sob tortura no dia 5 de janeiro de 1972, no DOI-Codi paulista, o mais violento centro repressivo mantido pelos militares. No Molipo militava o hoje ministro José Dirceu (Casa Civil).Numerosos presos testemunham que um dos nove torturadores que assassinaram Torigoe foi o delegado Aparecido Laerte Calandra, que atuava nos porões com o codinome de Capitão Ubirajara. Hoje Calandra, que nega ter sido Ubirajara, é o principal assessor do chefe do Departamento de Inteligência da Polícia Civil paulista. Procurado, disse não poder dar entrevista.A versão oficial foi de que Torigoe morreu em tiroteio.

Seu corpo foi comprovadamente enterrado em Perus com a identificação falsa de Massahiro Nakamura. Seus supostos restos foram descobertos em 1992.Uma equipe da Unicamp (Universidade de Campinas) exumou as três ossadas que os registros do cemitério indicavam ser, uma delas, de Torigoe.Duas integrantes da comissão de parentes, Suzana Lisboa e Maria Amélia de Almeida Teles, dizem que o legista da Unicamp Fortunato Badan Palhares relatou reiteradas vezes que o esqueleto seria de um homem de origem oriental, como Torigoe.Suzana Lisboa representa as famílias na comissão do Ministério da Justiça criada por lei de 1995 que julga a responsabilidade do Estado e o pagamento de eventuais indenizações pecuniárias por mortes e desaparecimentos ocorridos na ditadura.Por unanimidade, a comissão considerou a União responsável pela morte de Torigoe.

Por intermédio de advogado, Palhares assegura que sustentou o contrário: que as três ossadas não tinham características morfológicas de Torigoe. Não poderiam ser dele.Colega de Palhares, o legista José Eduardo Bueno Zappa diz, pelo mesmo advogado, que nunca afirmou que os restos talvez fossem do guerrilheiro.

O pedido de novas buscas será feito ao Ministério Público Federal, que precisaria requisitar à Justiça autorização para exumações.O advogado Luís Francisco Carvalho Filho, presidente da comissão do Ministério da Justiça, afirmou que apóia a iniciativa das famílias. "Há uma série de problemas de localização no cemitério.

Todos os esforços para uma identificação mais precisa serão bem-vindos. Cabe à comissão apoiar as medidas importantes para a identificação de pessoas."Maria Amélia Teles diz que é necessário "um investimento mais contundente do Estado". "Se dependesse só dos familiares, já teríamos encontrado todos que temos procurado."

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