quarta-feira, 12 de novembro de 2008

VIVA AS ALGEMAS!


Algemas: para qualquer um sim!
12/11/2008 09:36

. O ex-presidente de Taiwan Chen Shui-bian foi preso por corrupção e devidamente algemado.
. Usou até as algemas para fazer um gesto de protesto.
. No mundo civilizado os presos são algemados.
. No Brasil, graças ao Supremo e ao Ministro Marco Aurélio de Mello prevaleceu a Jurisprudência Toron: algema é para “preto, pobre e p...”

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terça-feira, 4 de novembro de 2008

Militante do MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO POPULAR (MOLIPO)

Frederico Eduardo Mayr


Nasceu em Timbó, Santa Catarina, em 29 de outubro de 1948, filho de Carlos Henrique Mayr e Gertrud Mayr.

Foi baleado e preso pelos agentes do DOI/CODI-SP no dia 23 de fevereiro de 1972, na avenida Paulista, em São Paulo.Levado às câmaras de tortura do DOI/CODI, apesar de ferido com um tiro no abdômen.

Frederico foi visto pelos outros presos recolhidos àquele órgão de repressão política, sendo torturado na chamada “cadeira de dragão”.Vários companheiros, estiveram com ele antes de ser morto pelos torturadores.

Entre os quais, José Carlos Gianini, que afirma não haver possibilidades de Frederico ter travado tiroteio com os policiais, nem mesmo se tivesse conseguido fugir, pois estava muito debilitado devido ao ferimento a bala e às torturas.

Segundo os depoimentos desses presos, foi torturado até a morte pelos integrantes da Equipe “C” do DOI/CODI paulista, investigador de Polícia Federal “Oberdan”, investigador de polícia do DEOPS lotado no DOI/CODI Aderval Monteiro, vulgo “Carioca”, escrivão de polícia Gaeta, vulgo “Mangabeira” e um policial conhecido como “Caio”, da Polícia Civil de São Paulo, todos comandados pessoalmente pelo hoje general da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe do DOI-CODI e pelo vice-chefe, Tenente-Coronel Dalmo Lúcio Muniz Cirillo.No processo n° 100/72 da 2ª Auditoria Militar de São Paulo, vários presos políticos denunciaram a prisão e morte de Frederico, pois o estavam processando como revel, quando o Juiz Nelson Machado Guimarães fez excluir seu nome, extinguindo sua punibilidade por morte, só reconhecida naquele momento. As várias denúncias feitas nunca foram registradas devido à negativa do referido juiz.

Enterrado sob nome falso no Cemitério Dom Bosco, em Perús/SP, seus restos mortais estavam na Vala de Perus. A ossada de n° 246 era de Frederico, sendo identificada, em 1992, no Departamento de Medicina Legal da UNICAMP. Seus restos mortais foram trasladados para o jazigo da família, no Rio de Janeiro, em 13 de julho de 1992.Todos documentos policiais têm seu nome verdadeiro e na ficha individual (documento do DOPS/SP 30Z-165-124), além do nome verdadeiro, dados de qualificação, ficha datiloscópica e fotos de frente e de perfil, há também os nomes falsos. Portanto, Frederico foi identificado pelos órgãos da repressão.
No DOPS/SP foi encontrada ficha individual , feita no dia 24 de fevereiro de 1972, pelo Serviço de Identificação do Exército com fotos de Frederico ainda vivo, catalogada no DOI sob o n° 1112 e que dá como local da prisão a avenida Paulista e data de 23 de fevereiro de 1972. No entanto, sua certidão de óbito foi lavrada em nome de Eugênio Magalhães Sardinha e enterrado como indigente no Cemitério de Perús/SP.Assinaram o laudo da necrópsia os médicos legistas Isaac Abramovitch e Walter Sayeg.Um documento encontrado no arquivo do antigo Dops/SP, conta a mesma história afirmada pelo IML.

O que impressiona na versão oficial são os detalhes do inacreditável tiroteio, onde ele teria morrido. Diz o documento, que os guerrilheiros, a bordo de um fusca “começaram a atirar contra os policiais sem serem provocados”. No combate que aconteceu, só Frederico caiu morto e os demais ocupantes do veículo não foram mais citados, nem como presos, nem como foragidos.

Dona Gertrud, sua mãe, dá o seguinte depoimento:“O segundo de meus três filhos, Frederico foi educado com muito amor dentro dos mesmos princípios que eu recebi de meus pais. Em meio aos valores encontrados em Timbó, área de colonização européia, lugar onde eu nasci e fui criada, Frederico cedo aprendeu que todos os homens são iguais e têm o seu valor próprio independente de seu trabalho. Ainda criança, veio para o Rio de Janeiro. Viemos todos. Seu pai, Carlos Henrique Mayr é médico e estabelecido com sucesso na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Convivendo no meio agitado do Rio, Frederico manteve o ensinamento de como a liberdade de um limita a liberdade do próximo, esforço que fiz para prepará-lo a viver harmoniosamente na coletividade. Sempre atento às necessidades dos outros e generoso, demonstrava grande sensibilidade, qualidades próprias que, combinadas com a formação que Ihe dei, o levaram a se preocupar com o próximo. Cursou o primário na escola municipal Dr. Cócio Barcellos, uma escola da rede pública em Copacabana, próxima de nossa casa, ensino igual para todos, princípio que achávamos importante em sua educação. Fez seu curso ginasial e científico no Colégio Mallet Soares, também em Copacabana. Ingressou na Faculdade aos dezoito anos de idade.

Foi um escoteiro exemplar, dos sete aos dezesseis, na Tropa Baden Powell. Gostava muito da vida em contato com a natureza, dos acampamentos. Praticou a pesca submarina na adolescência. Era namorador e queria ser arquiteto.Cursava o segundo ano da Faculdade de Arquitetura da UFRJ e se dedicava às artes plásticas, quando foi forçado, pelas circunstâncias, a sair de casa para viver na clandestinidade. Tinha um futuro promissor pela frente, tanto na arquitetura como nas artes. Seu desempenho foi elogiado tanto por seus professores na faculdade, e entre eles Ubi Bava, como por artistas plásticos com quem se relacionava, Ilio Burrini e Ivan Serpa, os mais próximos. Serpa foi o primeiro que lhe ensinou os segredos das tintas e dos pincéis e como dividir o espaço nas telas. Participou coletivamente de sua primeira exposição apresentando dois trabalhos aos quinze anos.

Frederico não foi o filho que eu perdi, mas o meu filho que todos nós perdemos. Quando existe um nascimento, sabemos que vai existir a morte. Mas o que aconteceu comigo, com a minha família e outras em situação semelhante, não segue a lei natural.O que se passou conosco foi uma afronta à dignidade humana. Frederico Eduardo, julgado e absolvido, no Conselho Permanente de Justiça, em 21 de setembro de 1972, inocência confirmada no STM em 15 de fevereiro de 1974, já não era vivo. Baleado, preso e torturado por agentes do DOI/CODI de São Paulo, Frederico Eduardo havia morrido em 22 de fevereiro de 1972, fato que só vim a saber muitos anos depois.

Em outro depoimento sua mãe conta:“Em 1969, em um dos primeiros processos nas Auditorias Militares do Rio de Janeiro, meu filho viu-se envolvido em uma ação penal que tinha como co-réus os cidadãos Jorge Raymundo Jr., Carlos Fayal, Carlos Alberto Nolasco e outros, sendo Frederico condenado à revelia à pena de três anos. Essa condenação motivou protesto de Jorge Raymundo em plena sessão de julgamento, quando, aos gritos, disse que Frederico era inocente.A partir dessa condenação, meu filho entrou para a clandestinidade. A família recebeu um bilhete dele pedindo para trancar matrícula na Faculdade. Não recebemos mais informações dele.No final de 1972, em uma outra ação penal na Justiça Militar do Rio de Janeiro, foi juntado por um advogado um recorte de jornal que noticiava a morte de Flávio Carvalho Molina. Embora essa notícia não mencionasse Frederico, a família pediu ao advogado Mário Mendonça que fosse a São Paulo para obter informações.

O advogado voltou dizendo que nada constava em São Paulo segundo as informações que recebera das autoridades sobre uma eventual prisão ou morte de Frederico. Foi neste momento que Nelson Lott me perguntou se Frederico ainda estava vivo. A partir desse instante tomei consciência de que meu filho pudesse ter sido preso e eventualmente morto.Foi somente em 1979, quando da promulgação da Lei de Anistia, que vimos o nome de meu filho ser publicado em listas dos Comitês Brasileiros pela Anistia, ora como morto, ora como desaparecido.

Membros do CBA/SP procuraram familiares meus no Rio de Janeiro com cópias de documentos do processo, onde as autoridades judiciárias extinguiam sua punibilidade por ter sido morto por órgãos de segurança e enterrado no Cemitério de Perus sob o falso nome de Eugênio Magalhães Sardinha. Na justiça foi feita retificação do assentamento de óbito, substituindo os dados falsos pelos verdadeiros. Após ter sido encontrado enterrado em Perus, sob o nome falso de Nelson Bueno, o perseguido político Luis Eurico Tejera Lisboa (o primeiro desaparecido político encontrado), em 1979, fui ao Cemitério de Perus para buscar informarções sobre meu filho e naquele registro não constava o nome de Frederico nem se encontrou anotações com o sobrenome Sardinha.

Apesar da informação da morte constar em processo na Justiça Militar, meu filho continuou a responder a outras ações penais em outras auditorias militares.”

FIQUE SABENDO

Um dia na vida da Folha de S. Paulo
Escrito por Bernardo Kucinski - Agência Carta Maior



De como um dos maiores diários do país vem se especializando em inverter o sentido dos fatos. O jornal torce os fatos porque está torcendo pelos mesmos, em vez de tentar retratá-los com a maior precisão e contextualização possível.

O dia é quinta, 30 de Outubro de 2008. Mas podia ser qualquer outro. Nessa quinta, o desprezo da Folha pelos seus leitores superou-se com a reportagem “Luz para Todos não cumpre a meta de dois milhões". Minha mulher, que já vinha se aborrecendo com a Folha, fechou as páginas, irritada: “Esse jornal pensa que somos idiotas”. Começa pela foto que encima a história, uma cena de escuridão no Congresso Nacional, que não tem nada nadinha a ver com o programa Luz para Todos. Depois vem o título, enorme, em quatro colunas, numa página nobre do jornal, chamando de fracassado um programa que os números da reportagem revelam estar sendo um dos maiores sucessos do governo Lula.

O Luz para Todos atingiu até a semana anterior à publicação da matéria, nada menos que 1, 744 milhão de famílias. São famílias, por definição, localizadas em regiões remotas, pequenos vilarejos que as concessionárias não serviam por não ser econômico. Mesmo se ficasse só nisso, já seria um feito excepcional. Não só pelo número absoluto de famílias e comunidades beneficiadas, mas também pelo fato de quase 90% da meta ter sido alcançada - meta essa que já era bastante ambiciosa. Foi tão forte o desejo de narrar um fracasso que o repórter excluiu do seu argumento sobre o não cumprimento da meta deste ano o fato relevante de que o ano ainda não terminou. Só lá em baixo, no pé da reportagem, separadas propositalmente do argumento principal da narrativa, está a informação de que já há mais R$ 13 bilhões em contratos fechados, sendo R$ 9,4 bilhões do governo federal, R$ 1,6 bilhão dos governos estaduais e R$ 1,9 bilhão das concessionárias.

O sucesso é tanto que o Ministério de Minas e Energia já pensa em ampliar a meta em mais 1,1 milhão de famílias entre 2009 e 2010. (1)Na mesma edição, a Folha relata outro retumbante “fracasso” do governo Lula. “Gastos do governo com o PAC caem 70%”. O título é de quatro colunas ocupando também o topo de página. Um gráfico de pagamentos do PAC revela investimentos crescentes ao longo do ano, exceto pequena redução em junho, e as quedas que deveriam justificar o título, em setembro e outubro. De pronto está a desonestidade do título. Gastos só caíram nos últimos dois meses. E mais: caíram de forma brusca.




A explicação está lá, escondida, no meio da própria reportagem: as chuvas de setembro e a greve dos servidores do Departamento Nacional de Infra-estrutura (DNIT) que “bloqueou pagamentos e todas as demais fases da gastos durante três semanas...” (2). Um título mais preciso seria na linha de ”greve paralisa obras do PAC”. Mas esse título não serviria ao propósito aparente de retratar um governo inoperante e incompetente. Manipulação de números repetiu-se no título de página inteira ”Diminuem as vendas em supermercados”. O segundo parágrafo, aliás atropelado, diz que “a queda nas vendas em setembro, além de ser sazonal, ocorreu porque, em agosto, houve queda nos preços de alguns alimentos, o que resultou em alta no consumo daquele mês...”






O pessoal da tortura perdeu o sono


Oficiais do Exército, investigadores e delegados envolvidos com a repressão política na ditadura militar não dormem desde que o Ministério Público Federal de São Paulo decidiu entrar com ações na Justiça para responsabilizar torturadores e autoridades da época por crimes cometidos no DOI-Codi paulista.

O MPF pretende puni-los por prisões ilegais, torturas, homicídios e desaparecimentos forçados. Para a Procuradoria da República em São Paulo, agentes públicos, “notadamente da União Federal”, praticaram abusos e atos criminosos contra opositores ao regime, “em violação ao princípio da segurança pessoal”.

Na visão dos procuradores, a Lei de Anistia não encerrou esse episódio e o Brasil pode – e deve – punir os repressores, à semelhança do que aconteceu na Argentina, no Chile e no Uruguai.

Mortos e Desaparecidos > Hiroaki Torigoi

Hiroaki Torigoi

Dirigente do MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO POPULAR (MOLIPO).Nascido em Lins, Estado de São Paulo, em 02 de dezembro de 1944, filho de Hiroshi Torigoe e Tomiko Torigoe.

Foi morto, aos 28 anos de idade, em São Paulo.Fazia o 4° ano da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.Baleado e preso pelo DOI/CODI-SP, em 5 de janeiro de 1972, Torigoi foi imediatamente levado para as câmaras de tortura desse departamento.Sua prisão se deu na Rua Albuquerque Lins, Bairro de Santa Cecília, por uma equipe chefiada pelo delegado Otávio Gonçalves Moreira Jr., vulgo “Otavinho”.

Seus torturadores e assassinos foram: capitão do exército Orestes, vulgo “Ronaldo”; “capitão Amici”, Aparecido Laerte Calandra, o “capitão Ubirajara”, investigador Pedro Maria Grancieri, soldado da Aeronáutica Roberto, vulgo “Padre”, policial conhecido como “Castilho”, todos chefiados pelo então major Carlos Alberto Brilhante Ustra e pelo capitão Dalmo Lúcio Muniz Cirillo.Devido a seus ferimentos, e pela impossibilidade de pendurá-lo no pau-de-arara, Torigoi foi torturado em uma cama de campanha, onde foi amarrado para espancamentos, choques elétricos e outras violências.

Vários presos políticos que se encontravam no DOI-CODI/SP nesse dia viram Torigoi ser arrastado pelo pátio interno, sangrando abundantemente, em direção às câmaras de tortura.A já tradicional nota oficial à imprensa, anunciava sua morte como sendo mais um “terrorista” que morria ao ser levado ao hospital, ferido em conseqüência de tiroteio.Um fato importante é que vários presos ouviram uma acirrada discussão entre os torturadores quanto ao destino a ser dado a Torigoi, quando este ainda se encontrava vivo.

Assassiná-lo de imediato em torturas, foi o que defendeu o capitão Orestes, apoiado pelo capitão Amici; prestar-lhe alguma assistência médica, reanimando-o a fim de continuar com as torturas, era o que queria o delegado Otávio Gonçalves Moreira Jr.A posição vencedora foi a dos capitães Orestes e Amici, que lograram seu intento, assassinando Torigoi em apenas algumas horas.O laudo de necrópsia foi assinado pelos médicos legistas Isaac Abramovitch e Abeylard Queiroz Orsini, corroborando a versão oficial.

O simples exame das fotos do corpo evidenciam as torturas - estando um dos braços visivelmente quebrado.Foi enterrado como indigente com o nome falso de Massahiro Nakamura em 07 de janeiro de 1972, na rua 15, sepultura 65, em Perus. Seu irmão, que foi fazer o reconhecimento fotográfico no DOPS no dia 20 de janeiro de 1972, contou 8 tiros, sendo 3 na face e 5 no tórax. Foi exumado em 1976 e seu paradeiro não foi informado aos familiares, dizendo não saberem do destino dado à sua ossada.Em 1990, pelo exame dos livros do Cemitério Dom Bosco, constatou-se que os restos mortais foram reinumados no mesmo local.

O corpo exumado dessa sepultura não possui o crânio, aguardando a identificação através do exame de DNA, na UNICAMP.

O Relatório do Ministério da Marinha, diz que “faleceu no dia 05 de janeiro de 1972, no pronto socorro para onde foi conduzido, após ser ferido em tiroteio com agentes de segurança, ao reagir à bala à voz de prisão. Usava o nome falso de Nakamura, o que dificultou sua verdadeira identificação.”REGIME MILITARFolha de São Paulo, 25 de maio de 2003Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos vai pedir ajuda da Promotoria para retomar exumaçõesFamílias planejam novas buscas em Perus MÁRIO MAGALHÃESDA SUCURSAL DO RIO Uma das feridas mais profundas que o regime militar (1964-85) deixou sem cicatrização, o sumiço dos corpos de pelo menos 152 oposicionistas, vai ganhar novo capítulo.

A Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos pedirá ajuda ao Ministério Público para retomar as exumações no cemitério Dom Bosco, em Perus (zona norte paulistana).A decisão foi tomada depois que uma equipe de médicos-legistas da USP (Universidade de São Paulo) concluiu que três ossadas, das quais uma se presumia ser do guerrilheiro Hiroaki Torigoe (1944-72), têm dados discordantes com o corpo do militante.Ou seja: são incompatíveis com as características antropométricas de Torigoe e, portanto, não devem ser dele. Integrante do Molipo (Movimento de Libertação Popular), Torigoe morreu sob tortura no dia 5 de janeiro de 1972, no DOI-Codi paulista, o mais violento centro repressivo mantido pelos militares. No Molipo militava o hoje ministro José Dirceu (Casa Civil).Numerosos presos testemunham que um dos nove torturadores que assassinaram Torigoe foi o delegado Aparecido Laerte Calandra, que atuava nos porões com o codinome de Capitão Ubirajara. Hoje Calandra, que nega ter sido Ubirajara, é o principal assessor do chefe do Departamento de Inteligência da Polícia Civil paulista. Procurado, disse não poder dar entrevista.A versão oficial foi de que Torigoe morreu em tiroteio.

Seu corpo foi comprovadamente enterrado em Perus com a identificação falsa de Massahiro Nakamura. Seus supostos restos foram descobertos em 1992.Uma equipe da Unicamp (Universidade de Campinas) exumou as três ossadas que os registros do cemitério indicavam ser, uma delas, de Torigoe.Duas integrantes da comissão de parentes, Suzana Lisboa e Maria Amélia de Almeida Teles, dizem que o legista da Unicamp Fortunato Badan Palhares relatou reiteradas vezes que o esqueleto seria de um homem de origem oriental, como Torigoe.Suzana Lisboa representa as famílias na comissão do Ministério da Justiça criada por lei de 1995 que julga a responsabilidade do Estado e o pagamento de eventuais indenizações pecuniárias por mortes e desaparecimentos ocorridos na ditadura.Por unanimidade, a comissão considerou a União responsável pela morte de Torigoe.

Por intermédio de advogado, Palhares assegura que sustentou o contrário: que as três ossadas não tinham características morfológicas de Torigoe. Não poderiam ser dele.Colega de Palhares, o legista José Eduardo Bueno Zappa diz, pelo mesmo advogado, que nunca afirmou que os restos talvez fossem do guerrilheiro.

O pedido de novas buscas será feito ao Ministério Público Federal, que precisaria requisitar à Justiça autorização para exumações.O advogado Luís Francisco Carvalho Filho, presidente da comissão do Ministério da Justiça, afirmou que apóia a iniciativa das famílias. "Há uma série de problemas de localização no cemitério.

Todos os esforços para uma identificação mais precisa serão bem-vindos. Cabe à comissão apoiar as medidas importantes para a identificação de pessoas."Maria Amélia Teles diz que é necessário "um investimento mais contundente do Estado". "Se dependesse só dos familiares, já teríamos encontrado todos que temos procurado."

Espionagem militar teve acesso à Receita até 98



http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2006-01-08_2006-01-14.html#2006_01-10_00_17_48-10045644-27

Documento secreto do Exército revela que, no auge da ditadura, espiões militares tinham livre acesso às informações armazenadas nos arquivos da Receita Federal. Desrespeitando o sigilo imposto pela lei, o fisco repassava aos agentes das Forças Armadas dados fiscais de personagens que o regime considerava “subversivos”.
O acesso dos órgãos de informação do governo aos arquivos da Receita se prolongou até o ano de 1998, quando, já redemocratizado, o país era presidido por Fernando Henrique Cardoso. Só foi interrompido depois que Everardo Maciel, então secretário da Receita, descobriu, por acaso, que informações sigilosas do fisco continuavam vazando para a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) por meio do Serpro, a empresa pública de processamento de dados vinculada ao Ministério da Fazenda.
O blog obteve um relatório redigido por agentes do serviço secreto do Exército em 18 de julho de 1978. Refere-se a uma operação que recebeu o nome de “Concha”, em alusão a uma das cuias do edifício do Congresso -aquela que, virada para cima, abriga o plenário da Câmara dos Deputados.

Cabeçalho do relatório do Exército
O Exército investigava funcionários da Câmara e pessoas que com eles se relacionavam. Agentes do DOI-CODI, lotados no Comando Militar do Planalto e chefiados por dois agentes identificados pelos codinomes de “Capilé” e "Müller", foram à Secretaria da Receita Federal do Distrito Federal. Recolheram informações “sobre um grupo de elementos”. Pessoas que “anos atrás pertenceram ao Partido Comunista Brasileiro”, anota documento.
No último parágrafo do relatório de duas páginas, os agentes escreveram uma “observação”: “A Secretaria da Receita Federal, precisamente o arquivo, é uma seção que fornece informações a vários órgãos do Sistema Nacional de Informações desta Capital. Além de alguns dados de qualificação, fornece ainda dados como bens, aqui e fora do DF, profissão, local de trabalho e outras atividades que por ventura o indivíduo possa exercer.”

Agentes exaltam utilizada da Receita
No início de 1998, Everardo Maciel descobriu que a Abin, órgão vinculado à Presidência da República, subordinado à época ao general Alberto Cardoso (Gabinete Militar), tinha acesso a dados fiscais de contribuintes armazenados nos computadores do Serpro. Algo que é ilegal. Em seu artigo 198, o Código Tributário Nacional diz o seguinte:
“Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a divulgação” de qualquer informação “(...) sobre a situação econômica ou financeira dos sujeitos passivos ou de terceiros e sobre a natureza e o estado dos seus negócios ou atividades.”


Ao interromper o acesso da Abin aos arquivos da Receita, Everardo recebeu telefonema de um funcionário do Palácio do Planalto. Pediu-lhe que reabrisse os arquivos. “Acabou”, respondeu o então secretário da Receita. Em abril de 1998, o fisco assinou um convênio com a Abin.
Desde então, a agência passou a dispor apenas de dados públicos dos contribuintes, tais como nome e número de CPF. Segundo Everardo, informações que envolvam sigilo fiscal não foram mais entregues aos órgãos de informação.

Escrito por Josias de Souza às 01h17
http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2006-01-08_2006-01-14.html#2006_01-10_00_17_48-10045644-27

Você sabe quem foi Manoel Fiel Filho?

O operário Fiel Filho foi preso em 16 de janeiro de 1976 por dois homens que se diziam agentes do DOI-Codi, sob acusação de pertencer ao PCB...

O motivo alegado para a prisão foi receber das mãos do também operário Sebastião de Almeida o jornal “Voz Operária”...

No dia seguinte os órgãos de segurança informaram que Fiel Filho se enforcara, usando as próprias meias, nas dependências do II Exército...

Seus colegas de trabalho, em depoimento, testemunharam que ele fora preso de chinelos de dedos; portanto sem meias...

Seu corpo apresentava sinais claros de tortura...

Meses anteriores foram mortos, de forma idêntica, o jornalista Vladimir Herzog e o líder estudantil Alexandre Vannucchi...

Em 1997 a viúva, Dona Thereza de Lourdes Martins Fiel, recebeu indenização de 100 mil pagos em única parcela da Comissão de Mortos e Desaparecidos, vinculada a Secretaria Especial de Direitos Humanos...

Somente 21 anos após a morte do metalúrgico Fiel Filho a viúva recebeu a diferença de salário para cálculo de pensão de R$ 300 mil com os quais comprou duas casas em Bragança Paulista, uma para sua filha...

Atualmente Dona Thereza recebe pensão de R$ 500 do INSS, por ser viúva de um trabalhador...

Pois é, a morte de Fiel Filho valeu 100 mil e nenhuma pensão vitalícia para viúva...

As piadas do Ziraldo e do Jaguar: 1 milhão e pau e mais pensão mensal de 4 mil e créu...

Os textos do Cony para a Revista Desfile mais de 4 milhões e bláu...

Nesta semana Dona Thereza de Lourdes Martins Fiel, viúva de Manuel Fiel Filho, desabafou para o repórter Adauri Antunes Barbosa:

- É muito dinheiro! Milhões! Só se fala em milhões. Além do roubo que se tem de milhões (corrupção no país), ainda tem esses caras que recebem milhões sem fazer nada na vida. Acho um absurdo! Matam um operário e recebo mixaria!

O Brasil inteiro concorda com Dona Thereza...
Exceto meia dúzia de pessoas...
Ou melhor, com certeza metade, exceto três brasileiros...

Sabe o que o Ziraldo, que parece ser o mais lúcido dos três, deveria fazer surpreendendo todos os críticos?

Doar a grana e a pensão para Dona Thereza...

Limparia sua barra com a opinião pública e reescreveria esta página horrorosa da sua biografia de forma magnífica...

Duvido, mas é uma idéia...
Quem sabe?!

Jorge Schweitzer

MPF responsabiliza ex-chefes do Doi-Codi por torturas, mortes e desaparecimentos


O Ministério Público Federal em São Paulo entrou com uma ação pública contra a União e os dois ex-comandantes ainda vivos do Destacamento de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi), do 2º Exército, em São Paulo, no período de 1970 a 1976: Carlos Alberto Brilhante Ustra e Audir Santos Maciel. As informações são do MPF e foram divulgadas pela Agência Brasil.Na ação, o MPF acusa o Exército de ser o responsável pelo sigilo ilegal de documentos do Doi-Codi de São Paulo e pede que os ex-comandantes do órgão sejam pessoalmente responsabilizados por torturas, mortes e desaparecimentos.
Os procuradores da República Eugênia Augusta Gonzaga Fávero, Marlon Alberto Weichert, Adriana da Silva Fernandes, Luciana da Costa Pinto, Sergio Gardenghi Suiama e Luiz Fernando Gaspar Costa, que assinam a ação, requerem à Justiça o reconhecimento do dever das Forças Armadas de revelar o nome de todas as vítimas do Doi-Codi de São Paulo, as circunstâncias de suas prisões e os atos de violência que sofreram, bem como tornar públicos todos os documentos relacionados ao funcionamento do órgão; e a declaração de que Ustra e Maciel comandaram um centro de prisões ilegais, torturas, homicídios e desaparecimentos forçados no Doi-Codi de São Paulo.

Os procuradores ainda pedem que Ustra e Maciel sejam obrigados a reembolsar à União os custos das indenizações pagas, na forma da lei, às famílias das 64 vítimas do destacamento durante a gestão dos demandados, e que ambos sejam condenados a não mais exercerem qualquer função pública.
Cf.: Diário Gauche
Postado por gilberto tedeia às 5/16/2008 08:32:00 AM

Quinta, 22/05 - Ato contra nomeação do extorturador em SPPor Sociedade organizada 22/05/2003 às 00:32

Entidades de Direitos Humanos convidam V. Exa. para o Ato de repúdio à nomeação do Delegado Aparecido Laertes Calandra para o comando do Departamento de Inteligência da Polícia Civil de São Paulo, que será realizado no dia 22 de maio de 2003, quinta-feira, às 17h, no antigo Doi Codi, Rua Tutóia - Vila Mariana.
Doi-Codi

CAMPANHA FORA CALANDRA ?Capitão Ubirajara? ATO CONTRA A NOMEAÇÃO DO TORTURADOR PARA O CARGO DE CHEFIA DO DIPOL (DEPARTAMENTO DE INTELIGÊNCIA DA POLÍCIA CIVIL) DIA: 22/05/2003 HORA: 17:00 LOCAL: ANTIGO DOI/CODI/26ª DELEGACIA Rua Tutóia. V.Mariana O delegado Aparecido Calandra, acusado de comandar os interrogatórios e as sessões de tortura durante a ditadura militar, foi promovido a um cargo no Departamento de Inteligência da polícia de São Paulo.


O terrível capitão Ubirajara, como era conhecido nos anos 70, está na lista de torturadores do Tortura Nunca Mais. Entre as vítimas do Capitão Ubirajara estão Hiroaki Torigoi, dirigente do Movimento de Libertação Popular e Carlos Nicolau Danielli, do PCdoB. Embora com um vasto currículo de tortura, Calandra tem o apoio do delegado-geral de São Paulo e até mesmo do governador do estado, Geraldo Alckmin.

golpe de 64 e o período de trevas da história do Brasil.


No próximo dia 1º (abril), o Brasil lembrará os 44 anos do golpe militar que submeteu o país a um dos períodos mais sombrios de sua história.
Nunca, talvez, o país tenha sofrido um atentado tão grande, violento e contundente às liberdades civis quanto nos vinte anos que revesaram-se no poder a pior estirpe de ditadores - aqueles sem ideais e mariontes de forças externas - que domiram o país de 64 a 1985.

A ditadura militar no Brasil deixou um saldo de mais de três mil pessoas desaparecidas e milhares de sequelados pelas torturas operadas nos subterrâneos do DOI-CODE. O golpe durou duas longas décadas, com direito a mais cinco anos de extensão sob o comando civil de José Sarney, que teve a vida política durante o regime ditatorial pautada pela simpatia aos militares.
Os generais que chegaram ao poder na calada da noite do dia 31 de março para 1º de abril de 1964, interromperam um projeto de governo comandado por João Goulart que prometia mudanças mais que almejadas pela sociedade brasileira de então.
O basta ao entreguismo estava decretado e a tão esperada (até os dias de hoje) reforma agrária caminhava em rumos e direções bem definidos. A despeito do populismo, Jango fazia de fato um governo pró-povo, o que metia medo e ameaçava a elite ultra-convervadora da época. Apoiados pelo contarolar das carolas, incentivadas pela ala podre da Igreja, financiados e organizados pela CIA, os carrascos da história triste do Brasil chegaram ao poder armados até os dentes, mas sem necessidade de muitos disparos. Os chumbos foram economizados para os anos seguintes. E haja chumbo...

O pretexto foi o mesmo que ajudou os EUA a implantar governos a seu serviço em quase todos os paises da América Latina: o comunismo que avançava da ásia em direção à terras que só eles queriam dominar. E onde quer que pretenderam meter o dedo, encontraram vassalhos dispostos a colaborar.

Os vinte anos de ditadura no Brasil caracterizaram-se por total supressão de liberdade da populção, perseguições políticas e censura aos meios de comunicação. O país foi governado por decretos e o congresso servia apenas de detalhe decorativo. Com Costa e Silva, a partir de 1967, configurou-se o "golpe dentro do golpe", sobretudo com a promulgação do AI 5 em 13 de dezembro de 1968, medida mais dura do regime que visava silenciar de todo as vozes que denunciavam as arbitrariedades dos bandoleiros fardados, então comandantes supremos da nação.

A virulência do AI-5 determinava entre outras infâmias, que:
¬ O Congresso seria fechado por tempo indeterminado;¬ O governo poderia legislar por decretos;¬ Ficaria proibido qualquer reunião pública;¬ Seriam suspensos habeas corpus para "crimes políticos".
Além de que, trazia em seu bojo também a cassação dos direitos políticos de centenas de pessoas.
A ditadura no Brasil teve vida longa, perdurou por tanto tempo quanto necessário para deixar a nação debilitada e impotente para transformações. As sequelas estão vivas, ainda que em menor intensidade, mas vivas, até os dias de hoje. E não poderão jamais serem esquecidas.
Relembrar o passado e conhecer a história, é o motor de combustão para mudanças!
Ditadura nunca mais! Tortura nunca mais! Saúde e anarquia para todos!
Apresentação
No dia 25 de outubro de 1975, morreu o jornalista Vladimir Herzog, assassinado, sob tortura, nas dependências do DOI-CODI em São Paulo. Nesta página, a Fundação Perseu Abramo quer prestar sua homenagem a Vlado, evocando as várias facetas desse homem íntegro, fiel às suas convicções, do jornalista competente e responsável, do homem apaixonado por todas as manifestações culturais, do amigo leal, cuja falta todos nós, que com ele convivemos, continuamos a deplorar.

A par disso, nossa intenção é também rememorar a reação que se sucedeu: a indignação que uniu, primeiro a categoria dos jornalistas, e, logo a seguir, os vários segmentos da população numa onda crescente de revolta que teve como conseqüência a denúncia pública, no Brasil e no Exterior, da arbitrariedade do regime militar, abalando de forma decisiva a estabilidade do governo ditatorial.Para contar essa história foram utilizados:


1. Depoimentos de pessoas que tiveram participação nos acontecimentos;2. Registros jornalísticos da época.


A maioria dos depoimentos foi feita especialmente para esta página, outros foram extraídos de relatos já publicados em jornais, revistas ou livros.


Quanto ao material jornalístico, optamos por oferecer a edição completa do número especial do jornal Unidade (nov/75), dedicado inteiramente ao “caso Herzog” e que nos foi cedido gentilmente pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo.
Queremos acentuar a importância, entre outros, do manifesto “Em nome da verdade" (Unidade nº6), assinado por 1004 jornalistas de todo o país, em que pela primeira vez naquele período de repressão, uma categoria profissional ousou contestar publicamente a versão oficial de suicídio que as autoridades queriam impor para explicar a morte de Vlado.
A repercussão nacional e internacional do manifesto foi imensa, intensificando significativamente o processo de resistência ao governo ditatorial brasileiro.

Zilah Abramo25/10/2000

sábado, 25 de outubro de 2008

Reforma Manicomial

Uma reforma silenciosa e irreversível

Em meio a tantas reformas legais e administrativas discutidas em todo o país, há uma que passa quase despercebida pelos que não estão na mesa de debates: é a reforma no sistema de atendimento psiquiátrico brasileiro. Apesar de lenta, ela tem avançado, e interessa diretamente aos brasileiros que buscam auxílio na rede pública de saúde, podendo alterar radicalmente o sistema de atendimento. Há dez anos, desde quando foi apresentado no Congresso o primeiro projeto prevendo reforma no sistema de saúde mental do país, parece consenso que essas mudanças são extremamente necessárias. Depois dessa primeira proposta, surgiram diversas outras e o próprio Ministério da Saúde já criou uma comissão com a exclusiva função de discutir a melhor maneira de realizar as mudanças.

O motivo dessa unanimidade é claro: a legislação que atualmente vigora no país sobre a questão psiquiátrica data de 1934 e permite atitudes como o seqüestro manicomial de qualquer pessoa que tenha sido diagnosticada como portadora de transtorno mental, uma medida cada vez mais condenada nos meios médicos. E não são poucos os que têm interesse em mudar esse sistema antiquado. Até agosto de 1999, foram internadas na rede pública do país para atendimentos psiquiátricos 276 mil pessoas, numa média de 34 mil internações por mês, segundo o Sistema Único de Saúde.

Ocorre, entretanto, que depois de reconhecida a necessidade de reformas ninguém consegue efetivamente realizá-las: o projeto de reforma manicomial, que data de dez anos atrás, de autoria do deputado federal Paulo Delgado (PT-MG) está parado no Congresso e, aparentemente, tem poucas chances de ser aprovado em breve. Além disso, a comissão criada pelo Ministério da Saúde para avaliar as mudanças não se reúne há mais de seis meses.

Longe de ser consenso entre as partes interessadas (doentes mentais e seus familiares, governos e hospitais), o projeto de Paulo Delgado propõe uma mudança radical no sistema: seriam proibidas a partir de sua aprovação novas internações em hospitais psiquiátricos e toda rede de hospitais do tipo seria extinta em cinco anos (20% ao ano). Além disso, o projeto propõe tratamentos alternativos e a interferência de uma autoridade judiciária que decida ou não pela internação caso isso seja solicitado pelo paciente. Embora tenha sido aprovado na Câmara dos Deputados, o projeto foi muito alterado no Senado, que apresentou um substitutivo mais comedido, que também está parado nos trâmites internos da casa. Nele, condiciona-se a ação do Ministério Público a um pedido ou denúncia da família, o que contraria os movimentos antimanicomiais, que defendem que pessoas internadas involuntariamente tenham o direito de nomear um advogado e de solicitar uma junta de julgamento para que ela apure a necessidade de sua internação, a exemplo das recomendações que a Organização Mundial de Saúde fez para os sistemas de atendimento psiquiátrico.

"O projeto-de-lei do Paulo Delgado pode não ser aprovado, mas já é o responsável por algumas mudanças muito importantes", diz Sylvio Pellicano, superintendente da Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do Estado de São Paulo e membro da comissão formada pelo Ministério da Saúde para a reforma psiquiátrica. Entre as mudanças importantes que ele destaca estão as alterações ocorridas nos últimos anos nas legislações de diversos estados e municípios que beneficiam os doentes psiquiátricos (Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Distrito Federal, Pernambuco, Ceará, Ribeirão Preto/SP e Rio Grande/RS).
Através delas, boa parte dos serviços tem passado para as mãos dos municípios.
Municípios assumem atendimento psiquiátrico

Embora a legislação federal que rege o sistema de saúde mental não apresente atualmente mudanças importantes, o Ministério da Saúde tem concedido algumas alterações no sistema aos movimentos organizados. O Ministério já editou a Portaria Federal 224/92, que submeteu os hospitais a normas de atendimento psiquiátrico mais respeitoso aos pacientes e a Norma de Orientação Básica (NOB) 96, que prevê a municipalização do sistema psiquiátrico e o repasse de recursos federais aos municípios.

Embora tenha sido baixada em 1996, a NOB 96 só começou efetivamente a funcionar em grande número de cidades a partir de abril de 1999, quando o Ministério da Saúde efetivamente ofereceu verbas federais aos municípios que assumissem os sistemas psiquiátricos até então sob o comando da União e dos Estados. De posse desses novos recursos e das diretrizes ditadas pela Portaria 224/92, os municípios ganharam grande impulso para realizar, de fato, uma reforma de base no sistema psiquiátrico nacional. A portaria federal prevê a criação de estruturas inéditas que respondem por maior atenção a doentes. Um exemplo é a formação de Centros ou Núcleos de Atenção Psicossocial (Caps/Naps) ou os hospitais-dia, que podem fazer a mediação entre ambulatório e internação, oferecendo aos pacientes atendimento clínico e psicoterapêutico. A portaria também prevê a criação de lares abrigados (que permitem a formação de repúblicas de pacientes) e de oficinas terapêuticas. Além disso, proíbe terminantemente a reclusão dos pacientes em "espaços restritivos".

No Estado de São Paulo foi aprovada neste ano uma legislação que trata especificamente do atendimento que deve ser dado aos doentes internados e prevê para doentes mentais, entre outras mudanças, a extinção de códigos de identificação (eles passam obrigatoriamente a ser identificados pelos seus nomes), e que eles tenham o direito de recusar o tratamento. "O paciente tem o direito de defender sua qualidade de vida, ainda que isso signifique não se submeter a qualquer tipo de tratamento", afirma o deputado estadual e médico Roberto Gouveia (PT-SP), autor da lei complementar que originou o Código de Saúde do Estado de São Paulo, o primeiro código de saúde estadual do Brasil. Nessa lei complementar há uma seção específica para a saúde mental, na qual consta que "a internação psiquiátrica será utilizada como último recurso terapêutico".

Para Roberto Gouveia, mesmo sem ter instrumentos legais mais poderosos, o movimento antimanicomial "vai levando as mudanças no peito, e elas vão acontecendo porque o atual sistema de atendimento simplesmente faliu. Não há alternativas senão modernizar". O moderno, para Gouveia e os integrantes do movimento antimanicomial, é o fim progressivo das internações com finalidades psiquiátricas e o crescente número de terapias alternativas que integrem os pacientes com distúrbios mentais à sociedade.

É esse tipo de trabalho que vem sendo feito em lugares como o Museu do Inconsciente.
Museu expõe capacidade artística dos pacientes
A história do Museu do Inconsciente confunde-se com a de sua fundadora, Dra. Nise da Silveira (1905-1999), uma psiquiatra que se posicionou desde seus tempos de faculdade contra o eletrochoque, a lobotomia e outros tipos de tratamento. Estes métodos são hoje considerados desumanos pela opinião pública e pela maioria dos profissionais que trabalham com doentes mentais.

A não concordância com essas formas de tratamento, demonstrada pela Dra. Nise, desde o início de sua carreira, levou-a a criar, em 1946, o Serviço de Terapia Ocupacional do Centro Psiquiátrico Pedro II, no Engenho de Dentro, Rio de Janeiro. Sob sua orientação, os funcionários do centro psiquiátrico começaram a estimular os internos a terem contato com várias atividades artísticas. A partir deste contato, que incita a criatividade, o paciente passa a ter novas ferramentas para se expressar e refletir seu estado psíquico. Através da pintura, da escultura e outras formas de expressão o esquizofrênico pode representar seu mundo interno, suas angústias ou seu processo de cura, já que é uma característica da esquizofrenia a dissociação e desordem da linguagem.

"A comunicação com o esquizofrênico, nos casos graves, terá um mínimo de probabilidades de êxito se for iniciada no nível verbal de nossas relações interpessoais. Isso só ocorrerá quando o processo de cura se achar bastante adiantado. Será preciso partir do nível não verbal. É aí que se insere com maior oportunidade a terapêutica ocupacional, oferecendo atividades que permitam a expressão de vivências não verbalizáveis por aquele que se acha mergulhado na profundeza do inconsciente, isto é, no mundo arcaico de pensamentos, emoções e impulsos fora do alcance das elaborações da razão e da palavra [...]."

A principal função das atividades realizadas no Centro de Terapia Ocupacional é justamente criar oportunidades para que as imagens do inconsciente encontrem formas de expressão, possibilitando ao doente uma melhor compreensão de sua condição, de sua situação psicológica, de suas vivências internas, do significado dos seus sintomas. A importância dessas atividades para os internos foi crescendo de modo diretamente proporcional ao tamanho do acervo a ser conservado, motivando a fundação do Museu de Imagens do Inconsciente em 1952, localizado dentro do próprio Centro Psiquiátrico Pedro II.

Foi também com essa intenção que Dra. Nise criou a Clínica Casa das Palmeiras em 1956, sem fins lucrativos, que funciona em regime de externato, destinada ao tratamento e à reabilitação de egressos de unidades psiquiátricas. Os trabalhos realizados na Casa são pioneiros no tratamento da esquizofrenia fora das premissas do hospício e comprovam a viabilidade terapêutica da expressão criativa e da liberdade. Nise da Silveira aponta em seu livro Mundo das imagens (1992) para a complexidade do universo das formas pictóricas e da mente humana:
"[...] o mundo interno do psicótico encerra insuspeitadas riquezas e as conserva mesmo depois de longos anos de doença, contrariando conceitos estabelecidos. E dentre as diversas atividades praticadas na nossa terapêutica ocupacional, aquelas que permitiam menos difícil acesso aos enigmáticos fenômenos internos eram desenho, pintura, modelagem, feitos livremente."
Assim na Casa das Palmeiras, é dada grande ênfase às relações interpessoais entre corpo técnico e pacientes, sem as marcadas distinções discriminatórias que os separam. A autoridade da equipe técnica estabelece-se de maneira natural, pela atitude serena de compreensão face aos problemas dos pacientes, pela evidência do desejo de ajudá-los e por um profundo respeito a cada uma das pessoas.

No entanto, o Museu do Inconsciente padece dos mesmos problemas de falta de recursos que atingem boa parte das instituições brasileiras do gênero.
Faltam recursos para o Museu

Quando nos referimos aos museus de nosso país, logo nos vêm à mente as dificuldades financeiras por eles enfrentadas. Com o Museu do Inconsciente, não é diferente. O fato de ele pertencer até o momento ao Ministério da Saúde, antes de ser uma solução, é mais um complicador, uma vez que o Ministério tem outras prioridades dada a escassez de recursos. Mas, segundo nos revelou a Dra. Gladys Schincariol, psicóloga que trabalha no Museu desde 1979, a instituição tem contado, de forma um tanto irregular mas imprescindível, com o apoio da Sociedade Amigos do Museu do Inconsciente. Através dela tem conseguido a captação de recursos externos sem depender da burocracia da "máquina pública". Além disso, existem outros projetos com vistas à obtenção dos recursos necessários para que o Museu consiga resolver seus sérios problemas de manutenção, e assim conservar seu acervo sempre aberto à visitação e pesquisa.

As dificuldades financeiras enfrentadas pelo Museu do Inconsciente trouxeram uma polêmica sugestão: a comercialização de suas obras. Atualmente, temos presenciado uma multiplicação das chamadas "terapias alternativas". Uma delas, a "arteterapia", utiliza conceitos pseudocientíficos, esotéricos, místicos e mesmo alguns dos conceitos junguianos utilizados no Museu do Inconsciente. O termo arteterapia, segundo a Dra. Gladys, nunca foi aceito pelos profissionais ligados ao Museu. A palavra arte já traz conotações de valor e qualidade estética implícitas e o terapeuta deve estar consciente de que o psicótico jamais deve desenhar ou pintar para se tornar um artista, e sim buscar uma linguagem com a qual possa exprimir suas emoções mais profundas. O terapeuta busca nas configurações plásticas a problemática afetiva de seu paciente, seus sofrimentos e desejos.

Embora os terapeutas tenham consciência dos reais objetivos de seu trabalho, em certos casos a manifestação criativa dos pacientes transforma-se naturalmente em arte.
Provavelmente porque alguns deles têm talentos especiais que não passam despercebidos aos expertos em arte. A possível comercialização dessas obras é um assunto bastante polêmico e contraria os objetivos do Museu. Segundo a Dra. Gladys, "as pessoas que defendem a idéia de comercialização de obras do Museu mostram-se absolutamente ignorantes de seu significado, e por que não dizer, sem respeito pelo trabalho desenvolvido pela Dra. Nise e sua equipe. Além do valor científico do Acervo - o estudo das séries de imagens - temos outras implicações de ordem subjetiva, como o sigilo dos casos clínicos e o respeito pelas pessoas que fazem seu tratamento ali. Muitos de nossos pacientes têm verdadeiro pavor da idéia de expor seus trabalhos, sinceros 'retratos da alma'. Abrir precedentes de comercialização seria inclusive valorizar apenas alguns de nossos freqüentadores, aqueles de maior talento, com certeza".

"O que distingue a arteterapia das práticas adotadas no Museu de Imagens do Inconsciente é que as atividades aí realizadas são absolutamente livres, espontâneas. O ateliê oferece um ambiente acolhedor e a monitora (que não é uma arteterapeuta) nunca intervém. Apenas tem uma atitude simpática para com o doente; diremos, no máximo, uma função catalisadora." (Nise da Silveira, O Mundo das Imagens).
Cândido Ferreira: um exercício de cidadania

O Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira, localizado na cidade de Campinas (SP) e reconhecido pela Organização Mundial da Saúde desde 1993 como modelo de tratamento no Brasil, é um dos atuais exemplos do processo de abertura manicomial e apresenta-nos uma belíssima forma de aprender, cultivar e exercitar a cidadania. Hospital-dia, Núcleo de Oficinas e Trabalho e Unidades de Recuperação de Moradores são os nomes de alguns projetos desenvolvidos no Cândido Ferreira buscando novos modos de tratamento dos doentes mentais. Estes projetos procuram reintegrar os pacientes à sociedade e abandonam as antigas terapias baseadas no eletrochoque e no confinamento.

Mas nem sempre foi assim. Quando de sua fundação, em 1924, até meados dos anos 80, o Cândido Ferreira seguiu os modelos tradicionais de tratamento psiquiátrico. A partir da mobilização iniciada por Dona Sylvia Ferreira de Barros (filha do Dr. Cândido Ferreira), foi fundado, em Souzas (distrito de Campinas-SP), como Hospício de Dementes de Campinas, o primeiro hospital psiquiátrico da cidade e o primeiro filantrópico do Estado em psiquiatria. Até então, os loucos da região eram trancafiados no porão da cadeia pública, juntamente com os pobres, como forma de afastá-los do convívio social. Apesar da nobre iniciativa de Dona Sylvia, apoiada por jornalistas como Leopoldo Amaral e José Villagelin Júnior do Estado de S. Paulo, o Cândido Ferreira não fugia à lógica da maioria dos hospitais psiquiátricos.

Como afirma o Superintendente do Serviço de Saúde Cândido Ferreira, Willians Valentini Jr., a psiquiatria brasileira seguia a tendência mundial da área importando as formas de tratamento brutais que eram praticadas. Franco da Rocha - exemplifica Willians - importou não só o Juqueri, uma cópia de Salpêtrière na França, como também trouxe a psicanálise para o Brasil.
O assessor de imprensa do Cândido Ferreira, Régis Moreira, comenta que durante muito tempo os doentes mentais foram tratados com eletrochoques e celas fortes além dos maus tratos e privações com os quais conviviam.
Apenas na década de 80, mais uma vez acompanhando uma tendência, é que as formas de tratamento vigentes entram em crise e o espaço manicomial começa a ser repensado. A partir de então começa-se um trabalho para humanizar a assistência e melhorar as condições físicas do local.
Novos modelos de tratamento
Desde 1990, quando é assinado o convênio de co-gestão com a Prefeitura de Campinas, o Cândido Ferreira trabalha com um conselho diretor da entidade e uma estrutura administrativa montados pela Secretaria de Saúde e idealizados pelo Dr. Gastão Wagner de Souza Campos.
O conselho diretor - explica Willians - reúne pessoas com múltiplas visões: as que estão na Universidade, no governo municipal, os funcionários e os próprios familiares, obrigando-as a tomarem decisões de diversos pontos de vista. Obedecem a esta proposta não apenas o conselho diretor mas todas as equipes de trabalho. "O nosso eixo de olhar preponderante", continua Willians, "é aprender a trabalhar a partir da ótica segundo a qual o usuário está no centro do projeto. O projeto se faz a partir da participação dele, sem desqualificá-lo do processo, respeitando-o e acolhendo-o na sua integridade. São pessoas que têm problemas, têm dificuldades, mas a maior dificuldade de grande parte delas, não é o fato de apresentarem este ou aquele diagnóstico, e sim de carregarem consigo anos e anos de hospitalismo."
Os novos modelos de tratamento desenvolvidos dentro do Cândido Ferreira partem do pressuposto de que o isolamento do doente mental só contribui para o agravamento de seu problema. "A perspectiva para nós", diz Willians, "é ampliar cada vez mais os contextos e as possibilidades para os pacientes se identificarem, relacionando-se com o que eles imaginam que querem e gostam de fazer e tendo a oportunidade de experimentar aqui. A compreensão que estamos desenvolvendo - e que é compartilhada com mais algumas áreas da psiquiatria -, é a de que não existe doença mental sem contexto. A própria ciência já reconhece que a qualidade do lugar onde se processa o tratamento, a qualidade da relação com o paciente influi sobre o prognóstico".
Ao contrário de algumas tendências seguidas pela medicina de enfatizar o caráter orgânico da doença e incentivar o aumento da medicação para estes pacientes, a doutrina seguida pelos profissionais do Cândido Ferreira procura reintegrá-los ao convívio social.
Projetos de reintegração
A reintegração dos pacientes à sociedade e a não-hospitalização mostram-se projetos criativos de tratamento, incluindo-se aqui o Hospital-Dia, o Núcleo de Oficinas e Trabalho, as Casas Assistidas, os Centros Culturais e de Convivência e a reabilitação de pacientes moradores.
Criado em março de 91 o Hospital-Dia foi, juntamente com a reestruturação do espaço físico, uma das primeiras mudanças que apontaram para um novo modelo de tratamento. Através dele, possibilita-se que 100 usuários sejam atendidos diariamente sem internamento. Não estão incluídos aqui os casos de crise aguda que são direcionados para os 50 leitos da Unidade de Internação.
O Núcleo de Oficinas (NOT), por sua vez, dá possibilidade aos pacientes de exercitar sua capacidade criativa, associando o projeto terapêutico e a reabilitação para o trabalho. O NOT atende a 150 usuários e possui sete oficinas com atividades profissionalizantes: vitrais, marcenaria, papel reciclado, gráfica, culinária, agrícola e mosaico. Para Régis Moreira os benefícios deste tipo de tratamento são muitos: "O trabalho muda o status familiar e social das pessoas. A sua produtividade faz com que a sociedade os veja mais como cidadãos do que como doentes. Através do trabalho, a convivência com os outros é ampliada, além de diminuir a reincidência de internação, melhorar a qualidade de vida, inserção social, respeito e amor próprio destas pessoas".
As 11 casas assistidas, alugadas em bairros residenciais, atendem a 45 usuários que são visitados diariamente pelos profissionais do Cândido Ferreira. É desta forma que os pacientes começam a administrar seu dia-a-dia readquirindo confiança em si mesmos. Sobre estes dois projetos Willians Valentini comenta: "Existem muitos pacientes que têm muita facilidade de convivência e vêm conseguindo se inserir. Progressivamente estamos mostrando a eles que são capazes de produzir e ter cotas de responsabilidade cada vez maiores".
A reabilitação dos 140 pacientes que moram no Cândido Ferreira realiza-se, entre outras formas, através do Centro de Convivência onde há ateliê de artes, laboratório de informática e biblioteca organizada pelos usuários.
Por fim, o Centro Cultural, que se localiza fora das dependências do Cândido Ferreira, surge como forma de aproximação entre usuários e comunidade. Neste espaço realizam-se exposições e diversos cursos com o apoio da Fundação Municipal para a Educação Comunitária de Campinas.
Superando o antigo modelo de exclusão e reclusão, estas iniciativas adaptam os processos de tratamento aos interesses dos pacientes e das famílias, não amputando o direito à liberdade e à convivência.

História dos manicômios
Asile, madhouse, asylum, hospizio, são alguns dos nomes que denominam as instituições cujo fim é abrigar, recolher ou dar algum tipo de assistência aos "loucos". As denominações variam de acordo com os diferentes contextos históricos em que foram criados. O termo manicômio surge a partir do século XIX e designa mais especificamente o hospital psiquiátrico, já com a função de dar um atendimento médico sistemático e especializado.
A prática de retirar os doentes mentais do convívio social para colocá-los em um lugar específico surge em um determinado período histórico. Segundo Michel Foucault, em A história da loucura na idade clássica, ela tem origem na cultura árabe, datando o primeiro hospício conhecido do século VII.
Os primeiros hospícios europeus são criados no século XV, quando da ocupação árabe da Espanha. Na Itália eles datam do mesmo período, e surgem em Florença, Pádua e Bérgamo.
No século XVII os hospícios proliferam e abrigam juntamente os doentes mentais com marginalizados de outras espécies. O tratamento que essas pessoas recebiam nas instituições costumava ser desumano, sendo considerado pior do que o recebido nas prisões. Diversos depoimentos - como o de Esquirol, um importante estudioso destas instituições no século XIX - retratam este quadro:
"Eles são mais mal tratados que os criminosos; eu os vi nus, ou vestidos de trapos, estirados no chão, defendidos da umidade do pavimento apenas por um pouco de palha. Eu os vi privados de ar para respirar, de água para matar a sede, e das coisas indispensáveis à vida. Eu os vi entregues às mãos de verdadeiros carcereiros, abandonados à vigilância brutal destes. Eu os vi em ambientes estreitos, sujos, com falta de ar, de luz, acorrentados em lugares nos quais se hesitaria até em guardar bestas ferozes, que os governos, por luxo e com grandes despesas, mantêm nas capitais." (Esquirol, 1818, apud Ugolotti, 1949.)

Influenciado pelos ideais do iluminismo e da Revolução Francesa, Philippe Pinel (1745-1826), diretor dos hospitais de Bicêtre e da Salpêtrière, foi um dos primeiros a libertar os pacientes dos manicômios das correntes, propiciando-lhes uma liberdade de movimentos por si só terapêutica.
Desde que a questão dos "loucos" passa a ser um assunto médico-científico, surgem duas correntes diferentes de pensamento com relação ao trato dos pacientes e à origem de seus males. Uma crê no tratamento "moral", nas práticas psicopedagógicas, nas terapias afetivas como mais importantes.
Outra focaliza o tratamento físico, crendo ser a loucura um mal orgânico, fruto de uma lesão ou de um mau funcionamento encefálico. Para esta última, o ambiente dos manicômios, suas instalações, não são tão relevantes para o tratamento.
Mesmo após as reformas instituídas no século XIX por Pinel, um dos primeiros a aplicar uma "medicina manicomial", o tratamento dado ao interno do manicômio ainda era mais uma prática de tortura do que a uma prática médico-científica. Tanto a corrente organicista quanto aquela que acreditava no tratamento "moral", não dispensavam os tratamentos físicos. Nestes tratamentos buscava-se dar um "choque" no paciente, fazer com que passasse por uma sensação intensa, que o tirasse de seu estado de alienação.
Eram correntes as práticas de sangria, de isolamento em quartos escuros, de banhos de água fria, além dos aparelhos que faziam com que o paciente rodopiasse em macas ou cadeiras durante horas para que perdesse a consciência.
Através da história, alternam-se momentos em que predominam as correntes "morais" e organicistas para o tratamento dos doentes mentais dentro da ciência médica. Este último século foi marcado pelo aumento da contribuição das ciências humanas no sentido de entender a loucura como também uma categoria social, com diferentes sentidos em diferentes culturas e períodos históricos. A institucionalização, a exclusão do convívio social, também passa a ser entendida como uma prática histórica que, por si só, não significa o tratamento mais adequado para aqueles que entendemos como doentes mentais. Do mesmo modo como nasceu em um determinado período histórico, ela também pode acabar.
Fonte: Com Ciência, abril de 2000.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Site revela mapa do controle da mídia no País

Sérgio Matsuura, do Rio de Janeiro
A Rede Globo controla quantos canais de televisão? O senador e ex-Presidente da República Fernando Collor de Mello é proprietário de quantos veículos de comunicação? Essas e outras informações podem ser encontradas no site Donos da Mídia, que disponibiliza a maior base de dados do mercado de comunicação do País.
“Isso sempre foi um arquivo fechado. Os veículos de comunicação não informavam o público sobre o seu próprio mercado”, diz o coordenador do projeto, James Görgen.
Resultado de 20 anos de pesquisa, a divulgação desses números faz parte da terceira fase de um projeto iniciado pelo jornalista Daniel Hertz, morto em maio de 2006. Segundo Görgen, ela só foi possível por causa dos avanços tecnológicos, que permitiram a automatização do banco de dados.
Política e comunicaçãoUma das questões levantadas pelo estudo é a participação de políticos como proprietários de veículos de comunicação. Controlando diretamente, existem 271 pessoas com cargos eletivos nessa situação, sendo: 147 prefeitos, 55 deputados estaduais, 48 deputados federais, 20 senadores e um governador.
O site também divide esse número pelos partidos: O DEM possui 58 políticos donos de veículos de comunicação, seguido pelo PMDB, com 48, e PSDB, com 43.
Concentração de mídiaGörgen informa que essas informações são importantes, mas não são as principais do estudo: “o grande problema é a concentração vertical”.
Classificado como “Sistema Central de Mídia”, o controle, direto ou indireto, dos principais veículos de comunicação no País por um pequeno grupo de conglomerados, “se constituiu e se sustenta contrariando os princípios de qualquer sociedade democrática, que tem no pluralismo das fontes de informação um de seus pilares fundamentais”.
“O decreto lei 236 de 1967 determina que uma mesma entidade não pode controlar tantas emissoras. A questão é que entidade, antigamente, era pessoa física. A entidade virou pessoa jurídica e eles controlam por vários nomes diferentes”, avalia Görgen.
A Rede Globo lidera o ranking, com 35 grupos que controlam 340 veículos. O sistema engloba 105 emissoras de TV, 69 veículos próprios, 33 jornais, 52 rádios em AM, 76 em FM e 11 em ondas curtas, além de ser reforçada por 3312 retramissoras.
EBC é a quinta maior rede do PaísEla é seguida pelo SBT, com 205 veículos; Band, com 172; Record, com 163; e pela Empresa Brasil de Comunicação, com 95.
“O Governo tinha um aparato de comunicação grande, mas que se tornou visível a partir da unificação”, diz Görgen.
O Donos da Mídia disponibiliza num único endereço informações que são divulgadas pelo Governo e entidades privadas. Respondendo à pergunta do início da matéria, Collor é proprietário de quatro veículos de comunicação.